As vozes do texto

As vozes do texto



As vozes masculina e feminina


Angela Maria Rodrigues Laguardia


"(...) as duas vozes, a dela e a dele, a feminina e a masculina, se respondem e dialogam não apenas na memória do que acontece de amizade e cumplicidade, mas também na exaltação do que de amor não chegou a acontecer" (COELHO, Público, 2002).

Nas descrições das personagens ou nos pontos de vista que cada uma expressa sobre o mesmo tema, é possível perceber a dualidade da própria temporalidade, ora aproximando os “amigos” em busca da verdade, valor inquestionável que os unia, ou nas discussões sobre as melhoras do mundo:

“olhávamos à nossa volta e não víamos o tão apregoado deserto de valores, excepto na boca dos que mais o denunciavam. O vazio era, para nós, esse consenso de estereótipos sobre um passado mítico, Antes-da-Queda-da-Alma” (PEDROSA, 2003:51),  ora revelando contrastes desconcertantes entre eles:

"Podias viver a pão, água e cigarros — mas numa sair sem um lenço de seda pura ao pescoço. Os teus lenços, como me embaraçavam, ao princípio. Por causa deles, arquivei-te na pasta dos galãs decadentes. Eu era exactamente o oposto: parecia-me um escândalo que se pudesse gastar o salário de um mês numa fatia de tecido, escolhia a roupa em cestos de feira e nas cores dos filmes dos ano 50, deixava-a amontoada nas costas da cadeira do quarto semanas a fio" (PEDROSA, 2003:22).



Fonte:
Acesso em: 06 de setembro de 2013.